quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Em sua entrevista Dr. Drauzio fala sobre Ejaculação precoce.

ENTREVISTA

EJACULAÇÃO PRECOCE

Sidney Glina é médico urologista, chefe do Departamento de Urologia do Hospital do Ipiranga (São Paulo/SP), diretor do Instituto H-Ellis, coordenador da Unidade de Reprodução Humana do Hospital Israelita Albert Einstein
A ejaculação precoce se manifesta principalmente na adolescência. Falta de experiência, medo de mau desempenho, inibição diante da parceira podem criar um estado de ansiedade intensa que leva o jovem a ejacular rapidamente. Com o tempo, esse problema tende a desaparecer. Em alguns homens, porém, esse transtorno está presente também na vida adulta e pode levar à disfunção erétil. A causa é quase sempre a mesma: nível elevado de ansiedade.
Não mais se discute que indivíduos ansiosos correm risco maior de ter ejaculação precoce, e que a falta de controle se transforma em fonte de insatisfação pessoal e desapontamento para companheira.
Entretanto, existem dois caminhos para reverter esse distúrbio: a psicoterapia e o uso de antidepressivos. O resultado do tratamento será melhor se o paciente puder contar com a participação da parceira. Em certos casos, entretanto, o problema não está no tempo que o homem leva para ejacular, mas na dificuldade que um terço das mulheres tem para atingir o orgasmo.
EREÇÃO E EJACULAÇÃO
Drauzio – Em linhas gerais, você poderia explicar a fisiologia da ereção e da ejaculação?
Sidney Glina – Ejaculação é a expressão máxima da excitação masculina. Diante de um estímulo sexual, surgem modificações no pênis, porque os corpos cavernosos recebem sangue em grande quantidade. Na verdade, essas estruturas funcionam como uma esponja com inúmeros orifícios revestidos por fina camada de músculos que se distendem. A compressão que o sangue exerce sobre as paredes do tecido que reveste a superfície externa dos corpos cavernosos (túnica albugínea) bloqueia sua saída pelas veias e é responsável pela ereção.
Portanto, a excitação leva à ereção e ao orgasmo, dois fenômenos distintos que ocorrem em pontos diferentes do cérebro. Por isso, é possível ter ereção sem ejaculação, ejaculação sem ereção e orgasmo sem ejaculação.
Drauzio – Existe orgasmo sem ejaculação?
Sidney Glina – Existe. Os hindus falam muito dele. Não é a resposta normal do organismo, mas pode acontecer. Pacientes paraplégicos que sofreram lesão de medula, por exemplo, podem ter orgasmo sem ejaculação e mesmo sem sensibilidade. Às vezes, basta a experiência anterior para que o orgasmo se processe no cérebro, no sistema nervoso central.
Drauzio – Do ponto de vista fisiológico, como funciona o orgasmo?
Sidney Glina – Seu funcionamento ainda é pouco conhecido. Sabe-se que é uma resposta cerebral. Atualmente, os estudos de imagem com ressonância funcional permitem perceber as áreas ativadas do cérebro por essa descarga central que nada têm a ver com o resto da medula. Por isso, o indivíduo pode ter orgasmo apenas experimentando uma situação excitante, sem estabelecer nenhuma espécie de contato.
Drauzio – Existe um período que poderia ser considerado, por assim dizer, “normal” entre o início da relação sexual e o orgasmo?
Sidney Glina – Nem o próprio paciente que se queixa de ejaculação precoce sabe dizer quanto tempo leva para ejacular, porque é muito difícil controlar a experiência sexual no relógio. Há, porém, dois estudos realizados em 2005 mostrando que o homem normal demora mais ou menos de dois a quatro minutos para ejacular, o que não é muito tempo. A diferença está naquele que consegue, durante a fase de excitação, manter a ereção por período mais prolongado antes de chegar ao clímax e ejacular.
Todo o mundo já teve a experiência de uma relação sexual rápida, mas muito satisfatória. O problema da ejaculação precoce não é o tempo, mas a insatisfação, porque sobra a sensação de que tudo aconteceu muito depressa e de que a parceira ficou desapontada.
CAUSAS E PREVALÊNCIA
Drauzio – O que provoca a ejaculação precoce? 
Sidney Glina – Em 99% dos casos, a ejaculação precoce é fruto da ansiedade. O que faz o indivíduo ejacular é a produção de adrenalina, o hormônio do estresse, que começa no período de excitação e intensifica-se até o indivíduo chegar ao fim do ato sexual. Se estiver ansioso, porque acha a mulher muito bonita e quer impressioná-la, por exemplo, o nível de adrenalina será elevado desde o início e ele ejaculará mais rápido.
Drauzio – Todo ansioso tem ejaculação precoce?
Sidney Glina – Muitos ansiosos não têm ejaculação precoce, porque conseguem controlar a ansiedade no ato sexual. Entretanto, a grande maioria dos ejaculadores precoces é ansiosa.
Drauzio – Qual a queixa fundamental dos homens com ejaculação precoce?
Sidney Glina – A grande maioria se queixa de não conseguir satisfazer a parceira. Às vezes, ela nem reclama, porque há mulheres que chegam rápido ao orgasmo, e a ejaculação precoce não faz muita diferença. Mesmo assim, com o passar do tempo, quanto mais repetidas ejaculações precoces o homem tiver, mais ansioso irá para a próxima relação, mais adrenalina produzirá e ejaculará cada vez mais rápido.
Drauzio – Quer dizer que esse quadro acaba se entretendo
Sidney Glina – Acaba se entretendo. Em muitos indivíduos, a ansiedade é tamanha que eles desenvolvem algum tipo de disfunção erétil.
Drauzio – Em geral, os quadros de ejaculação precoce se instalam na adolescência. Na vida adulta, eles também podem aparecer?
Sidney Glina – No início da atividade sexual, todo homem tem ejaculação rápida, porque está ansioso e ainda não adquiriu o controle necessário. Depois, mais experientes, superam essa dificuldade. Em alguns casos, porém, ela pode não desaparecer na vida adulta.
Outra possibilidade de acometimento tardio é a ejaculação precoce secundária que se manifesta em indivíduos com tempo de ejaculação absolutamente normal, mas que, por algum motivo – uma parceira diferente ou perda do emprego, por exemplo – estão mais ansiosos.
Drauzio – O uso do preservativo tem alguma influência sobre o tempo da ejaculação?
Sidney Glina – Por si só, não tem. Depende do paciente. Alguns acham que, quando usam preservativo, têm maior controle sobre a ejaculação; outros dizem que ejaculam mais rápido, porque colocar o preservativo aumenta o nível de ansiedade.
A diminuição da sensibilidade não tem a importância que se imaginava no passado. Houve época em que se retirava o prepúcio, pele que recobre a glande, para diminuir a sensibilidade, o que se mostrou ineficaz para solucionar o problema da ejaculação precoce.
CAUSAS ORGÂNICAS
Drauzio – Existem causas orgânicas para a ejaculação precoce?
Sidney Glina – A literatura registra inúmeros trabalhos sobre possíveis causas orgânicas para a ejaculação precoce, como a inflamação do pênis ou da próstata, mas nenhuma teoria foi comprovada. Sabe-se que algumas doenças neurológicas – por exemplo, a esclerose múltipla – podem provocar esse distúrbio, mas não se conhece o mecanismo pelo qual, ao lado de outras alterações, isso acontece.
Felizmente, já fazem parte do passado, as cirurgias para cortar os nervos do pênis a fim de diminuir a sensibilidade e retardar a ejaculação. Anos atrás, no Hospital das Clínicas de São Paulo, um estudo sobre a função sexual dos homens submetidos à amputação da glande por causa de tumores malignos mostrou que esse tipo de intervenção em nada afeta a ejaculação precoce previamente instalada. Ou seja, cortar completamente os nervos do pênis não altera o tempo de ejaculação encurtado pela ansiedade.
Drauzio  O homem mantém a capacidade de atingir o orgasmo sem a glande?
Sidney Glina – Mantém o orgasmo normal. O pênis pode ter diminuição da sensibilidade, mas continua sendo um órgão excitável e apto para a relação sexual.
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
Drauzio – Como você conduz os casos de ejaculação precoce?
Sidney Glina – Para fazer o diagnóstico é importante conversar com o paciente, levantar sua história. Praticamente, não existem exames a que se possa recorrer.
No que se refere ao tratamento, há dois caminhos: psicoterapia e uso de antidepressivos.  Considero o primeiro mais eficaz para o indivíduo aprender a controlar a resposta ejaculatória. A terapia sexual dura, em média, de três a quatro meses e os resultados são bons para a maioria dos pacientes que aceitam fazê-la.
Drauzio – Como é o processo de aprendizagem?
Sidney Glina – Eles começam treinando a ter atividade sexual sem penetração. Aprendem a tocar-se, a serem tocados e a controlar a ansiedade até o momento em que conseguem fazer a penetração sem ejacular.  Nesse processo, é muito importante contar com a ajuda de uma parceira cooperativa.
Drauzio – Como são tratados os indivíduos que resistem a fazer psicoterapia?
Sidney Glina – Para os que não aceitam fazer psicoterapia ou já fizeram e o resultado não foi satisfatório, a indicação é introduzir doses baixas de medicamentos antidepressivos, que apresentam o efeito colateral de retardar a ejaculação, porque aumentam a quantidade de serotonina no cérebro. Isso ficou bastante claro nos pacientes que tomavam doses altas desses remédios para combater a depressão e não conseguiam ejacular.
O inconveniente dos antidepressivos é a obrigatoriedade do uso contínuo, porque apresentam uma série de efeitos adversos e, suspensa a medicação, o problema costuma voltar.
Drauzio – Existe alguma relação entre depressão e ejaculação precoce?
Sidney Glina – Com a depressão em si, não existe. No entanto, indivíduos deprimidos que sejam também ansiosos podem apresentar ejaculação precoce.
Drauzio – Além da psicoterapia e dos antidepressivos, existe outro recurso para o tratamento da ejaculação precoce?
Sidney Glina – Está em estudo um medicamento recaptador da serotonina com função semelhante à dos antidepressivos, que apresenta a vantagem de ter ação mais curta, pois pode ser tomado imediatamente antes do ato sexual para ajudar a controlar a ejaculação, enquanto os outros antidepressivos precisam ser usados por duas ou três semanas para começar a produzir efeito.
Drauzio – Muitas pessoas que utilizam drogas como o sildenafil e o tardenafil relatam que, se por um lado, esses medicamentos facilitam a ereção, por outro, dificultam a ejaculação. Isso realmente acontece?
Sidney Glina – Alguns pacientes dizem que, quando tomam essas drogas, não conseguem ejacular. Tenho percebido, porém, que isso acontece mais na segunda relação. Embora não haja nenhuma prova estabelecida, minha explicação é que, sob o efeito do medicamento, fica mais fácil ter nova ereção com menos estimulo, sem tanto desejo.
Entretanto, o uso dessas drogas beneficia os indivíduos que ejaculam rápido por medo de perder a ereção, porque lhes dá a segurança de que isso não irá acontecer.
Drauzio – Você disse que os antidepressivos podem ser usados para retardar a ejaculação. Existe algum medicamento que induza a ejaculação precoce?
Sidney Glina – Que induza, não existe, o que representa um problema para os portadores de ejaculação retardada (uma condição rara, felizmente), que adquirem o controle da ereção por uma, duas horas, e não conseguem ejacular.
RELACIONAMENTO DO CASAL
Drauzio – Como evolui o relacionamento do casal, quando o homem tem ejaculação precoce?
Sidney Glina – Há aqueles que só sabem que têm ejaculação precoce depois de 15, 20 anos de casados, quando a mulher confessa que nunca sentiu orgasmo porque eles ejaculam rápido demais. Tal revelação cai como uma bomba sobre eles e é sinal de deterioração do relacionamento, porque a parceira perde o interesse em continuar investindo nele.
A dificuldade maior ocorre quando a mulher não avisa e o homem não percebe que tem ejaculação precoce. Não é pequeno o número de casais que vivem junto por muitos anos nessa situação.
Drauzio – Se a ejaculação masculina demora, em média, de dois a quatro minutos para acontecer, homens e mulheres estão fadados ao desencontro, porque elas levam mais tempo para atingir o orgasmo. 
Sidney Glina – Para começar, o orgasmo simultâneo é coisa de filme, raramente acontece na prática. Mesmo assim, muitos casais desperdiçam a vida em busca dessa fantástica simultaneidade. Existe o homem que ejacula primeiro e a mulher tem orgasmo depois e o contrário.
E mais: estou certo de que o orgasmo não acontece da mesma maneira sempre e que as relações sexuais não satisfazem os dois parceiros igualmente. Há as que são melhores para o homem e as que são melhores para a mulher. É fisiológico.
Por isso, digo aos meus pacientes que, nas relações sexuais, cada um deve tomar conta de si. Se o homem se preocupar com o próprio prazer e a mulher com o dela, os dois se darão bem, porque sabem do que precisam para um encontro feliz.
Drauzio – A ejaculação precoce é mais frequente quando as pessoas mal se conhecem ou nos relacionamentos mais duradouros?
Sidney Glina – É mais frequente nos encontros eventuais, porque o homem fica mais ansioso. Há até quem diga que as primeiras relações são sempre ruins, porque tanto o homem quanto a mulher estão se conhecendo e a ansiedade que isso desperta dificulta atingir o prazer.
ACOMPANHAMENTO PSICOTERÁPICO
Drauzio – Que tipo de orientação você dá aos homens com ejaculação precoce?
Sidney Glina – Trabalho com uma equipe de psicólogos, para os quais encaminho os pacientes. Eles não podem ter relações sexuais durante algum tempo, período em que passam por exercícios de dessensibilização. São sessões semanais em que aprendem a manipular-se e a serem manipulados pela parceira.
Num segundo momento, os exercícios são feitos com o pênis umedecido, porque isso aumenta a sensibilidade. Só depois de terem conseguido realizar a penetração sem ejacular, eles são liberados para ter ejaculação. Paralelamente, é feito um trabalho de análise para tentar entender as causas da ansiedade.
Quando por algum motivo o indivíduo não quer fazer psicoterapia, ou já fez e ela não surtiu resultados, prescrevo os antidepressivos, mas ele precisa saber que tais medicamentos devem ser tomados ininterruptamente por toda a vida e que seu efeito não é imediato.
Drauzio – Por que você prefere começar pelo tratamento psicoterápico?
Sidney Glina – Primeiro, porque a psicoterapia ajuda a resolver o problema de uma vez. Depois, porque envolve a companheira e isso ajuda a melhorar o relacionamento que, em geral, não costuma andar bem.

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